extra! extra! Ópera Macunaímica e Dionizíacas



Mais uma feliz obra do acaso, o inesperdo aconteceu. Ou melhor, o esperado, por 30 anos no embate entre Zé Celso e Silvio Santos: O rei do milhão finalmente cede o espaço para a  montagem de um Teatro Extádio, fato histórico cujo acontecimento convergiu para as mesmas datas da ópera macunaímica, tornando tudo em um grande evento comemorativo, em exaltação à arte, o amor e a vida, com as Dionizícas no teatro Extádio e a Ópera Baile no teatro Oficina.

E pra quem acha que isso foi simples coincidência, uma amostra da trama dos deuses é o parecer pelo tombamento federal do Teatro Oficina de Zé Miguel Wisnik, que termina o texto assim:

"...Curiosamente, reeditando uma das cenas arquetípicas do modernismo paulista, o confronto entre o Teatro Oficina e Silvio Santos evoca o embate entre Macunaíma e seu duplo, Venceslau Pietro Pietra guardando a muiraquitã no grajaú Baú da Felicidade. Que precisa se abrir num Anhangabaú da Felicidade."

E assim o sonho segue adiante. E assim o caráter do país vai se transformando, pela cultura e arte, como tanto queria Mário de Andrade. Em sua memória dedico esse Ato!
E assim o sonho segue adiante. E assim o caráter de um país vai se transformando, pela cultura e arte, como tanto queria Mário de Andrade. Em sua memória dedico esse Ato!



sexta: TANIKO no EXTÁDIO 

e na sequencia MACUNAÍMA NO OFICINA

sábado e domingo, os espetáculos acontecem simultaneamente: 

MACUNAÍMA no TEATRO OFICINA 

e DIONIZÍACAS no TEATRO EXTÁDIO

ENTRADA FRANCA!!!

::::::::::::::::::::::::CarnavAuto de Natal:::::::::::::::::::::::

!!!Asé!!!

Salve o rio Orixá Xingu




mani-festo - por iara rennó e carl ribeiro

alerta geral!
alerta geral!

belos montes inundados
impacto generalizado
Jurunas clamam por guerra
justiça aos povos da terra

todos somos riberinhos
nas palafitas humanas

basta de zona na amazônia!
salve o rio orixá Xingu

respeito não só ao meio
mas ao ambiente inteiro!
respeito aos corpos e almas
à água à flora e a fauna
sale a terra e a floresta

da má-quina da má fé cega
do poder sem proceder
salve-se quem puder
dessa cascata piada sem graça
ou adeus de vez  belos rios, cascatas e matas

Araras clamam por guerra!
justiça aos povos da terra!
todos somos ribeirinhos
nas palafitas humanas
não à Belo Monte
q de belo não tem nada e horrores trás aos montes

o rio é o veio é a via é a vida
o rio é o veio é a via é a vida
o rio é o veio é a via é a vida
o rio é o veio é a via é a vida

Macunaíma II - o resgate (do sonho)



ainda nos primórdios de meu Macunaópera
 na faculdade de Letras
tornando pública a minha idéia de musicalização dos textos 
e espetáculo multimídia
um dia ouvi rumores:
“parece que Mário imaginava uma ópera de Macunaíma...” 
é claro q aquilo ficaria ecoando na minha cabeça
mas foi só
até um dia desses pleno outubro de 2010
fui conhecer o IEB – Instituto de Estudos Brasileiros 
onde estão reunidos os manuscritos de Mário de Andrade 
(além de toda sua biblioteca)
e lá encontrei entre os poucos inéditos
a pérola
singela
q me trouxe lágrimas aos olhos:
apenas 2 páginas amareladas escritas `a máquina em tinta azulada
intituladas “Macunaíma – ópera em 6 quadros”
batizado posteriormente como “Macunaíma Ópera Baile”
onde Mário expõe resumidamente a idéia do enredo 
com música, dança, movimento cênico e alguns diálogos
!
o sexto quadro, gran finale, simplesmente nomeado:
“A Iara”
monstro q seduz pela beleza e canto mavioso 
que “chama Macunaíma com uma melodia bem gostosa e já conhecida do público”
...
canibalismo ou antropofagia
ela destroça o anti-herói
deixando-o à beira da morte
ou
imortalizando o personagem 
...
sem especificar o interlocutor, o autor termina o documento assim:
“...então, não daria uma boa opereta?”

já a 11 anos trabalho em resposta 
(sem ter antes sequer lido essa pergunta) 
sobre
se assim podemos dizer
esse 'sonho de Mário'
!!!



agradeço o carinho de Telê Porto Ancona Lopez
(a maior autoridade viva em Mário de Andrade)
q por sinal esteve presente no lançamento de Macunaópera, em 2008
e também da amiga e pesquisadora Lilian Escorel

cartaz de Yuri Pinheiro




Macunaíma I - a missão

trecho de ilustração de Gabriel Martins sobre foto de Yuri Pinheiro


pra além da 'Missão de Pesquisas Folclóricas'
- projeto de Mário de Andrade secretário de cultura na década de 20 -
desde o começo de meus trabalhos
tive muito presente a sensação de ter sido misticamente 
designada pra dar sequencia à essa história
...
por isso o modo como as coisas aconteceram
fluindo como a água 
que preenche todos os espaços
só vieram a corroborar [o oroboros] 
(arroboboi!)

de primeiro 
quase q magicamente
consegui o contato direto 
do sobrinho e detentor dos direitos de Mário, sr Carlos Augusto
a quem agradeço muitíssimo
pois não só me atendeu em sua casa
e ouviu canções
- acredito eu q um tanto esquisitas para o seu paladar musical -
[tambores em compasso 7x8 com guitarra distorcida, etc etc]
mas me autorizou a gravar as músicas 
utilizando os textos do livro
naquela ocasião 
e nas q viessem depois
e passados anos 
elas vieram
!
no final de 2005
ano de provações profundas em minha vida
inscrevi no edital do PPC 
o projeto do disco
Macunaó.peraí.matupi
q foi premiado e então produzido
reunindo harmoniosamente não menos q 60 músicos
q com seu talento contribuíram  
para uma obra musical rica e diversa
como a obra literária
e assim
do fundo do mato-sem-cachorro já não tão virgem
renasci Macunaíma
pra recontar cantando a música
q sempre esteve presente
quieta
no livro

e agora mais uma bela comprovação
q revelarei em breve 
!!!
sim
sinto-me
emissária
[aquela que é enviada para cumprir uma missão, mensageira;
canal, canalização, de escoamento de água, de um lago]
e o lago é o Mário
e é o Brasil
e é o Teat(r)o Oficina
e é o caldo da cultura
e é o caldo primordial

o caminho não é exatamente um mar de rosas
mas é um rio
com pedras terra plantas peixes
um rio denso e escuro as vezes
q sai arrancando as margens
um rio de vida
e só por isso
de beleza





pré-visões de Karina Buhr

entre outros e tantos
fui de encontro `a Karina Buhr
Visionária
quando a convidei pra tocar no Macunaópera 
ela já enxergou além 
e me mandou por email essa mensagem
de amor


“Mujer,

deu muita vontade de falar pra tu as coisas que sinto quando escuto teu disco!

É louco por que da primeira vez que ouvi achei bonito mas distante de mim.
Fiquei bem impressionada com a produção de cada faixa e achei as melodias lindas.
Quando parei pra ouvir escutando... me veio tanta coisa e tanta coisa tão bonita que fiquei me sentindo criança pirralha total.

Os arranjos tão lindos e tão cheios de coisas e camadas que parece que tem dez músicas em cada faixa. No melhor sentido que isso possa ter por que amo as músicas simples.

E tu cantando! Botando Macunaíma pra dormir ou virando Naipi é macunaó.peraí.matupi!

Fico vendo em cena o disco todo. Acho que tinha que filmar, em formato de musical mesmo. Sei lá um dia, ou o teu show vira isso por ele mesmo... E me lembra muito o Teatro Oficina no que tem de força nas montagens de Os Sertões. Dessas coisas que mudam a percepção dos sentidos. Gira uma chavezinha dos ouvidos, dos olhos e um monte de surpresas aparecem. De também desmistificar esses livros sagrados que todo mundo faz de conta que leu no ginásio. Não se preocupe que eu acredito que você leu Macunaíma duas vezes... (...) Eu vou ler Macunaíma depois de fazer o show com você...

E é um disco que tinha que existir! E é muito bom que tenha sido você por que ficou tão bonito e ele já devia estar encomendado pelos ventos há muito tempo.

Há muito tempo não ficava tão de bobeira com um disco. Fico de bobeira com vários discos incríveis que ouço, mas a bobeira causada por esse é diferente. Acho que é por causa da ópera...
Falei que só né?

E acho (tô cheia de opinião hoje...), já que você perguntou naquele dia sobre o nome do show!Acho que ele precisa se chamar MACUNAÓ.PERAÍ.MATUPI . Se é difícil das pessoas falarem problema das pessoas! Os outros nomes acabam tentando traduzir e aí fica menor. É o que eu sinto agora.

Ou no máximo Macunaíma Ópera Tupi. Tupi não é acadêmico! Acadêmicos costumam se apoderar de tudo!

Tô me expressando demais. Acho que é o frio. A pessoa se move menos, pensa mais, fala demais meu Deus!
(...)

Terminei o e-mail-tratado-de-Tordesilhas.

Abraço fuerte,

Buhr.”

20 de julho de 2008


Karina canta Taperá


Taperá by iara rennó
Taperá - show sesc santana, 12.03.2010 - com Karina Buhr, Curumin, Du Moreira, Guilherme Held, Daniel Gralha e Paulo Henrique - gravado por Fernando Narciso




eu "botando Macunaíma pra dormir" 


Nina Macunaíma by iara rennó
Nina - produzida por Moreno Veloso - com Moreno no cello e vibrafone, Kassin no baixo acústico e Joana Adnet nos clarinetes




"e no prinício era um som"

primeiro estudo de Valentina Trajano para capa do disco


pois então
não poderia ser diferente 
na minha saga Macunaímica
sobretudo 
encontros
memoráveis, formidáveis, impagáveis 
PESSOAS 
diversas 
com seus talentos e sua caminhada no mundo
de variadas relações com a música
encontros estes q
embora possam ser igualmente terríveis
são também o mais bonito na trama
são a trama em si afinal
porque somos entes reagentes 
(reativos as vezes, é verdade)
radioativos superativos 
porque precisamos agir  inter-agir e  além
superar o agir
fluir
como o rio Oyá
como a água sem fim
...
e assim peguei meu barco
e me lancei
macunaópera abaixo
!
tudo começou quando re-abri o livro
num curso de literatura brasileira em 1999 na faculdade de Letras na USP
"no fundo do mato virgem..."
me bateu um vento n'ouvido – era a melodia!
o professor Augusto Massi
ao invés dos habituais seminários de conclusão do curso 
nos sugeriu uma recreação de qualquer das obras visitadas
não é q eu já estava adiantada!
...
um tempo depois
2 músicas seriam selecionadas 
para o disco rumos musicais itaú cultural 2001
e assim fiz as primeiras gravações
.
alguns anos mais tarde
eu viria a realizar 
via edital da petrobras
o disco completo
e repleto
em encontros
com cerca de 60 entes 
de diferentes ritmos timbres e tons
com cada qual
uma experiência pessoal  
mais ou menos intensa
resultando em música densa
porque o resultado é tanto mais valioso
quanto mais verdadeiro e belo é o processo
  ...
e pra q tanta gente?
porque essa diversidade é inerente a obra original
escrita em 1927 
pelo inquieto ente Mário de Andrade
poeta músico antropomusicólogo
descobridor desbravador comedor de gente
não de suas carnes 
mas de suas artes e essências
porque é mister ser essencial 
porque é iminente ser integral em cada passo
em cada palavra em cada grau
porque é preciso comer arroz integral
porque o importante é o principal
porque a linguagem é ferramenta
fundamental
e há q se saber usá-la 
porque a letra é só um signo 
e a palavra escrita não cala
...
e porque justo o anti-herói? 
porque tal incompleto complexo avesso Odisseu? 
porque esse eco em “eu” 
tal qual o de Itamar em beleléu leléu
?
é q eu 
outrosim 
em busca do mar 
deságuo em mim
!
além do mais
não fui eu quem escolhi a obra
...
foi a própria musa q me soprou na orelha o hálito divino




Macunaíma by iara rennó
Macunaíma - produzida por Iara e Buguinha Dub - com Gustavo Ruiz nas guitarras, Maurício Negão no baixo, Toca Ogã, Gilmar Bola 8, Da Lua e Tom Rocha na percussão + quarteto de cordas




pingos nos (is)

 foto de Yuri Pinheiro


então tá
quer dizer q é tudo pessoal, né?
é. pessoal e intransferível, muito prazer! disse a vida
e assim fez-se
porque é preciso ser pessoa, ter propósito, limites, princípios
um início
ente individual de infinitas partículas cósmicas
princípio ativo
Laroyê!
Agô Lonã!

e passadas 3 décadas na jornada eu viria enfim compreender que no fim
o bom meio é tão importante quanto o bom fim
e bom mesmo é ir no Bonfim!
e digo mais
o meio justifica o fim - isto é, se justo for
porque o meio é o recheio, é o q vai por dentro e o alimento do q no fim, somos feitos
pois o processo da obra é o processo da vida e vice-versa.
com muito verso, faz favor!
com muita música, por amor!

então vou fazer isso aqui: falar dos processos, dos recheios
evidentemente sob um ponto de vista subjetivo, parcial e pessoal
 caminhando na extensa e densa trilha dos caminhos afetivos
(única via verdadeiramente possível)
porque pelos afetos somos movidos
pelas paixões q nos acendem ascendemos
nos encontros nos multiplicamos
nas encruzilhadas
salve a faísca, o lampejo, o vislumbre, o impulso
 q faz o mundo girar

q assim seja o q assim será
até jajá